Era uma quinta feira normal. A rotina era a mesma, chegando em casa eu iria à academia correndo como de costume para aquecer e encarar os 40 minutos de esteira. O caminho era o mesmo, descendo a rua entraria na pequena viela e atravessando alguns semáforos.
Mas nesse dia você apareceu na minha frente e quando passei correndo, virei, e me assustei. Você estava deitada, babando e vomitando e ao seu redor havia muita sujeira. A princípio fiquei assustado e apesar de não haver sangue pensei que havia sido atropelada. Não consegui ir embora. Sua respiração ofegante e seus pequenos movimentos denunciavam seu sofrimento, algo estava corroendo-a por dentro, estava matando-a aos poucos e causando-lhe intensa dor. Foi quando percebi que era veneno.
Corri atrás de socorro. Tive recusas mas por fim encontrei alguem que pudesse ajudar. Um veterinário. Tentamos de tudo e apesar dos esforços, você estava fraca demais. Provavelmente não comia há dias. Imaginei seus últimos dias andando pelas ruas, com seu corpo enfraquecido e magro por não encontrar nada que lhe sustentasse. Quero acreditar que tenha ingerido o veneno sem querer do lixo de algum irresponsável. Se pensar que alguém tenha feito de propósito fico com raiva. Enfim, carregava uma coleira velha. Aliás, era um cinto amarrado em seu pescoço e pudemos perceber seu peso quando o tiramos e ele caiu no chão. Seus olhos eram brancos, sofridos, que mal podiam enxergar. Nas horas que ficamos juntos, desejei que sobrevivesse para poder lhe dar uma vida decente.
Enfim, desculpe-me se acabei prolongando seu sofrimento tentando lhe ajudar. Descanse em paz!!